Exposição “Não visitem a sala colonial”
Pré-abertura: 16 de novembro de 2024, pelas 10h00
Exposição: 14 de dezembro de 2024 a 27 de abril 2025
O Museu de Lamego, em colaboração com a Escola Secundária de Latino Coelho, tem o prazer de anunciar a pré-abertura da exposição “Não visitem a sala colonial”, a 16 de novembro de 2024, uma iniciativa que se desdobra a partir de um projeto pedagógico e de investigação artística iniciado em 2021/22 com a artista Catarina Simão.
Como reflexo da oportunidade que este projeto colaborativo tem proporcionado para o desenvolvimento pedagógico e a reflexão, a exposição inicia-se com um Encontro, a anteceder a sua apresentação. Titulado A sala que não visitamos: escola. Memória e arquivo, o encontro destina-se a promover uma conversa sobre o arco de experiências em torno do projeto e a uma antevisão do trabalho em curso, com a participação de equipas envolvidas no projeto e instituições parceiras.
Sábado, 16 de novembro, a partir das 10h00
Encontro – A sala que não visitamos: escola, memória e arquivo.
Museu de Lamego, Espaço de projeções (salas de exposições temporárias)
Entrada livre.
Programa
10h00 – 10h45 | Encontro com os parceiros do projeto. Conversa moderada por Alexandra Falcão, diretora do Museu de Lamego, com a participação de:
Equipa do Museu de Lamego
Luís Sarmento (Escola Secundária de Latino Coelho)
eusoupaisagem (Equipa de educação do Museu do Douro)
Matilde Seabra (ping! Programa de incursão à galeria – Galeria Municipal do Porto)
11h00 – 12h30 | Apresentação e conversa com colaboradores, artistas e autores, com a moderação de Catarina Simão e a participação de:
José Roseira (escritor, tradutor e agricultor)
Marta Machado (fotógrafa e arquiteta)
Humberto Costa (jornalista e membro do Associação dos Antigos Alunos do Liceu de Lamego)
Maria Isabel Quaresma (designer)
Mário Moura (Professor, curador e crítico de designer)
Manuela Gama (membro Amigos do Museu de Lamego)
Sobre a exposição “Não visitem a sala colonial”
‘Não visitem a sala colonial’ é fruto de uma iniciativa pedagógica e artística desenvolvida pelo Museu de Lamego e pela Escola Secundária de Latino Coelho, que teve início em 2021/22 e contou com a colaboração da artista Catarina Simão.
O projeto foi realizado em torno de um arquivo colonial escolar, que reúne um conjunto de itens como um padrão dos descobrimentos, publicações coloniais, artefactos africanos, espécies vegetais, fotografias, peles e crânios de animais. Foi a partir da coleção de objetos africanos, em depósito no museu, que os demais itens foram identificados em diferentes lugares dentro da Escola Secundária de Latino Coelho, também conhecida como “o antigo Liceu”. No seu conjunto estes objetos constituíam a Sala Colonial, um modelo escolar de propaganda dedicado ao “Império Português em África”. Criada durante o Estado Novo (1933-1974) a sala contava uma versão enaltecida e anacrónica da história da expansão portuguesa e das suas “virtudes civilizadoras em África”. A organização e a decoração desta sala transmitiam uma visão universalista através da presença de objetos de arte africana oferecidas por alunos, militares e famílias de Lamego que assim manifestavam um vínculo com os territórios africanos colonizados. A pesquisa culminou na produção de um pequeno filme em colaboração com uma turma do 10º ano da mesma escola, onde foi possível explorar as conotações familiares e problemáticas ligadas à história colonial da região.
Este projeto avançou para a realização de “Não visitem a sala colonial”. Com o título provocatório, esta exposição é uma autorreflexão sobre processos de custódia, inventariação e pluralidade na representação da memória coletiva. Reúne elementos da pesquisa de repertório, recolhas de memórias assim como interpretações em curso por autores convidados e outros artistas.
A exposição é a manifestação dos gestos de delegação e colaboração que envolveram a sua realização. Por um lado, reflete a consolidação de parcerias entre as várias instituições e o acesso aos seus arquivos; por outro, destaca a revisitação da história colonial ligada à região e os seus efeitos contínuos, priorizando mesas redondas, ações educativas e a ativação de redes existentes que incentivem um diálogo informado sobre um passado problemático que afeta várias gerações.
Passados 50 anos desde o 25 de Abril de 1974, muito tem falhado no exercício de reconhecer e exorcizar o nosso legado colonial. É no aspeto probatório do seu arquivo, no confronto com o seu projeto desumanizador, que deverá, por fim, residir a força para colocar a nossa história ao serviço das exigências antirracistas de hoje. Não visitem a sala colonial deseja contribuir para esse esforço, experimentando uma prática de memorialização crítica.
Duração:
Patente, no Museu de Lamego, de 14 de dezembro de 2024 a 27 de abril de 2025.
Apoios:
DGArtes
Município de Lamego
Sobre a artista Catarina Simão
Catarina Simão (Lisboa, 1972), tem um percurso recente centrado no arquivo de coleções etnográficas em custódia de museus europeus. O seu objetivo é evidenciar uma noção criticamente discutida pelo autor camaronês Achille Mbembe, que relaciona a restituição de obras de arte africanas ao reconhecimento do papel que estas desempenharam na construção da história e da identidade ocidental. Ainda que incipiente no nosso país, o debate sobre reparações históricas oferece um novo espaço de relação com o passado e destaca a importância de confrontar os legados coloniais que herdamos e repensá-los. A Sala Colonial (Lamego, 1938-1980) materializa a desinformação que sustentou o racismo e o nacionalismo em Portugal. Nesse sentido, é relevante aprofundar a compreensão sobre a visão mitificada do mundo colonial e como os pressupostos culturais dessa perspetiva moldam as convenções de senso comum, na linguagem, nas práticas educativas, arquivísticas e museográficas.