TESOUROS NACIONAIS
A autenticidade, a originalidade, a raridade, a singularidade, a exemplaridade, o génio do criador, o testemunho de vivências, factos históricos e identidades coletivas, o valor estético, técnico ou material e a importância do ponto de vista da investigação histórica ou científica são alguns dos fatores que, em 2006, levaram à atribuição da classificação “TESOURO NACIONAL” a 18 peças à guarda do Museu de Lamego.
De valor excecional, o antigo retábulo da Sé, da autoria de Vasco Fernandes, as tapeçarias flamengas (“Série de Édipo“, “O Julgamento do Paraíso” e “O Templo de Latona“) os painéis de azulejos do século XVII e a arca tumular do séc. XIV, onde supostamente foram depositados os restos mortais de D. Teresa Anes de Toledo, 3ª mulher do podereso Conde Pedro Afonso, integram um conjunto de Tesouros mais amplo, que abrange outros museus nacionais, correspondendo a classificação à forma de proteção mais elevada dos bens culturais móveis.
Consagrados em Diário da República pelo Decreto nº 19/2006 de 18 de julho, os Tesouros Nacionais do Museu de Lamego ocupam o seu lugar, não só no panorama nacional, mas também no panorama internacional, afirmando-se pelo valor patrimonial de exceção de que se revestem, portadores de uma identidade que ultrapassa as fronteiras portuguesas.
Pinturas de Grão Vasco
Tapeçarias Flamengas
Azulejos
Arca Tumular
PINTURA
A coleção de pintura é constituída por c. 250 exemplares, que compreendem pintura portuguesa e europeia dos séculos XVI aos finais do XVIII, para além da presença episódica de exemplares mais tardios. Do conjunto de pintura portuguesa, o mais significativo, destacam-se os cinco painéis que integravam o políptico do altar-mor da Sé de Lamego, executado na primeira década do século XVI por Vasco Fernandes (Tesouro Nacional) e um conjunto de dezasseis pinturas de André Reinoso e oficina, que constitui um dos maiores conjuntos de pintura Seiscentista que se preserva em museus portugueses atribuídos a um só autor. Ainda do século XVI, da segunda metade, contam-se ainda obras atribuídas a António Leitão, Simão Antunes e a Gonçalo Guedes e, do século XVII-XVIII, uma pintura de Bento Coelho da Silveira. Evidencia-se do núcleo de pintura Setecentista, a obra de Pedro Alexandrino e numerosas pinturas, de expressão conventual, que integram os programas decorativos das capelas em talha dourada provenientes do extinto mosteiro das Chagas de Lamego.
A pintura de perspetiva, que decora o teto da capela do antigo paço episcopal, de finais do século XVIII, constitui o único exemplar de pintura parietal, que o museu conserva.
Pintura Portuguesa
Pinturas de Grão Vasco
Pietá
Quo Vadis?
Cristo atado à coluna
Flagelação de Cristo
Calvário com doador
São João Evangelista em Patmos
São Vicente
Repouso na Fuga para o Egito
Adoração dos Pastores
Visitação
Retrato de D. Pedro III
Teto da capela privada do antigo paço episcopal
Pintura Europeia
O museu conserva a coleção de pintura formada pelos sucessivos bispos que habitaram o paço episcopal de Lamego ao longo de vários séculos e que, após a reforma pombalina do edifício, se encontrava reunida no «sallam grande das pinturas», um dos mais importantes da antiga residência. A predominância de pinturas de origem flamenga e neerlandesa traduz os laços políticos e económicos entre Portugal e os Países Baixos e o clima de modernidade que vigorou a partir do século XVII na encomenda artística destinada à decoração de palácios reais e eclesiásticos. A erudição da grande pintura histórica do período anterior dá neste período lugar a obras de pequeno formato, com temas menos grandiosos mas mais reais e facilmente inteligíveis.
As paisagens naturalistas, animadas por pastores, caminhantes, figuras mitológicas ou bíblicas, salpicadas por ruínas ou edifícios clássicos, as marinhas, as naturezas-mortas e as cenas populares surgem entre os assuntos mais representados na coleção dos bispos de Lamego, através de cópias ou versões mais ou menos afortunadas de obras, nas quais se pode vislumbrar a marca de afamados mestres como Pieter Paul Rubens (1577-1640), Frans Francken II (1581-1642) ou os irmão Pieter (1657-1720) e Jan Frans van Bloemen (1662-1749). Já no século XXI, o legado de Ana Maria Pereira da Gama, incluindo exemplares ligados à produção de David Teniers II (1610-1690) ou Godefridus Schalcken (1643-1706), espelha a permanência de gosto pela pintura nórdica da Idade de Ouro no colecionismo contemporâneo.
Sacrifício de Isaac
O regresso do Filho Pródigo
Viajantes e pastor em frente a uma taberna e ruínas romanas
Navios numa tempestade
Natureza-morta com vidros, porcelanas e relógio com corrente
Par Amoroso num Interior
ESCULTURA
Apesar de não ser muito numeroso, o acervo escultórico do Museu de Lamego permite-nos um percurso deveras interessante pela produção de escultura em Portugal, que vai do período romano ao primeiro quartel do século XX.
Na origem da criação deste núcleo encontra-se a entrega ao Museu dos “achados arqueológicos” que a Câmara Municipal tinha à sua guarda, a incorporação de bens decorrentes da extinção das ordens religiosas (1834) e da aplicação da Lei de Separação do Estado e das Igrejas (1911), complementado, posteriormente, por doações várias.
Deste modo, a coleção integra tipologias muito diversas que vão desde a tumulária à heráldica, passando pela imaginária avulsa e de animação arquitetónica. Do período romano destacam-se várias estelas funerárias, merecendo especial destaque, do período medieval, uma arca tumular do século XIV (Tesouro Nacional), bem como o núcleo de escultura proveniente de São Pedro de Balsemão, que constitui um vestígio raro da produção de escultura autónoma, em madeira, que se conserva em Portugal desta época, ou ainda, as duas imagens, figurando a Virgem do Ó, atribuídas ao mestre catalão Pero.
O cruzeiro do Senhor do Bom Despacho, de finais do século XV, inícios do XVI, trata-se de um exemplar cuja raridade e exemplaridade levaram a que fosse classificado como Imóvel de Interesse Público; o núcleo dos séculos XVII e XVIII, o mais numeroso, é composto por imaginária de decoração arquitetónica que se encontra integrada em exuberantes estruturas retabulares em talha dourada, provenientes do extinto Mosteiro das Chagas de Lamego, e por um significativo número de pedras de armas ricamente esculpidas de acordo a opulência decorativa da época.
Mais recentemente, a doação de uma escultura flamenga em alto-relevo, figurando São Lucas e o tratamento de duas imagens provenientes da Misericórdia de Lamego – Ecce Homo e Cristo atado à coluna – permitiram alargar a exposição à escultura em madeira do século XVI.
Estela funerária
Arca Tumular
Arca Tumular
São Paulo
Virgem do Ó
Virgem do Ó
Cruzeiro do Senhor do Bom Despacho
Fragmento com as Armas de D. Manuel de Noronha
São Lucas
Cristo atado à coluna e Ecce Homo
Capela de São João Batista
Capela de São João Evangelista
Capela de Nossa Senhora da Penha de França
Retábulo de Jesus, Maria e José
Pedra de Armas
CERÂMICA
O núcleo de cerâmica reflete um período de alargamento do âmbito das coleções do Museu de Lamego aos domínios da etnologia e indústrias tradicionais, relacionado com uma intensa atividade de aquisição de novas espécies, que ocorreu a partir da década de 20 do século passado, por meio do grupo de «Amigos Pró Museu Regional, Biblioteca e Turismo». Correspondem a essa altura os objetos de cerâmica utilitária portuguesa, do século XIX-XX, ligada ao universo da mesa. Este conjunto seria complementado, nas décadas seguintes, através de doações e legados, permitindo alastrar a coleção a outros contextos geográficos, com a integração de exemplares de origem francesa, inglesa, chinesa e japonesa, os últimos, de pendor mais decorativo.
Da coleção fazem ainda parte um conjunto de azulejaria oferecida pelo Museu Nacional Machado de Castro, que inclui azulejos de padrão do século XVI, de origem hispano-árabe, e dos séculos XVII e XVIII, decorados a azul e amarelo, com motivos típicos da azulejaria portuguesa.
Classificados como Tesouros Nacionais, os seis painéis de azulejos figurados, com cenas de caça e de pastoreio, são dos mais curiosos e importantes testemunhos sobre a evolução do azulejo português.
Azulejos hispano-árabes
Azulejos de cercadura
Painel de azulejos com cena bucólica
Prato
OURIVESARIA
A coleção de ourivesaria é composta por 218 peças que se dividem, quanto à sua tipologia e proveniência, em dois núcleos fundamentais.
O primeiro, de ourivesaria religiosa, é composto por peças provenientes do antigo paço episcopal, Sé de Lamego e extinto Mosteiro das Chagas transferidas para o museu na sequência da nacionalização de bens da Igreja. Do conjunto salientam-se alguns exemplares de excecional valia, cuja aquisição se deve relacionar com a vinda de dignidades forâneas nomeadas para a catedral, como é o caso de um cálice de prata dourada, obra-prima da ourivesaria coimbrã de inícios de Seiscentos, ou do conjunto de altar constituído por vinte e duas peças do ourives Tomás Correia, um dos mais qualificados ourives lisboetas de transição do século XVII para o XVIII, ou ainda do conjunto de duas bilhas e bacia de lava-pés, produzido no Porto, no último quartel do século XVIII, pelo ourives João Rodrigues da Costa Negreiros.
O núcleo de ourivesaria civil, constituído essencialmente por doações, inclui exemplares em prata e prata dourada, que cronologicamente abrangem um largo período que vai do século XV ao XX, permitindo-nos acompanhar a evolução do gosto e as diversas tendências que acompanharam a produção de ourivesaria ligada, sobretudo, ao universo da mesa, com referências estéticas que vão do manuelino às novas correntes de sabor revivalista que coexistiram na primeira metade do século XX, passando pelo barroco, rococó e neoclássico.
MOBILIÁRIO
A coleção de mobiliário é constituída por cerca de duas centenas de peças provenientes da mitra episcopal de Lamego, que se encontravam distribuídas pela catedral e antigo paço dos bispos de Lamego, onde o Museu de Lamego se encontra instalado. Correspondem a este primeiro núcleo uma grande variedade de móveis de assento, mesas, bufetes, arcas e baús, datados dos séculos XVII e XVIII.
A partir da década de 1940, o núcleo inicial seria complementado por meio da incorporação de bens provenientes de coleções privadas, designadamente dos lamecenses Fausto Guedes Teixeira e Vasco de Vasconcelos, que se traduziram no alargamento do âmbito cronológico ao século XIX e na introdução de novas tipologias de mobiliário, permitindo uma melhor compreensão sobre a evolução do móvel português ao longo dos séculos.
GRAVURA
De origem mal documentada, a coleção de gravuras possui 76 exemplares, a maior parte adquirida por compra nas décadas de 30 e 40 do século XX, pelo então Grupo de Amigos do Museu de Lamego, sem, contudo, conhecer-se a sua proveniência.
Abrangente, sob o ponto de vista temático, que inclui retratos, alegorias, assuntos religiosos e cenas do quotidiano, a coleção é formada por gravura europeia (portuguesa, francesa, italiana e flamenga) produzida entre os séculos XVI e XX, por renomados gravadores, com destaque para Hieronymous Wierix, Raphael Morghen, Conrad Lauwers, Bernard Picart, Joaquim Carneiro da Silva e Gaspar Fróis de Machado.
Pelas suas dimensões e policromia assume especial relevo uma raríssima gravura que representa a África, o único exemplar que se conhece pertencente a uma série intitulada “As quatro partes do mundo”, impressa na oficina do reputado gravador e editor francês do século XVII-XVIII, Pierre Landry, que se notabilizou pela edição de Almanaques Reais, durante o reinado de Luís XIV.
São João Evangelista
Jesus escarnecido
Retrato do Imperador Frederico III de Habsburgo
Santa Maria Madalena
Cortejo de despedida e embarque de Dona Catarina de Bragança para Inglaterra