Após a sessão de pré-abertura da exposição Não visitem a sala colonial, que se traduziu, no passado dia 16 de novembro, no Encontro A sala que não visitamos: escola, memória e arquivo, no Museu de Lamego, no próximo sábado, dia 14 de dezembro, inaugura a exposição de Catarina Simão, resultante do projeto artístico e de mediação cultural e educativa Sala Colonial, desenvolvido em colaboração com a Escola Secundária de Latino Coelho, desde 2021.
Realizado em torno de um arquivo colonial escolar constituído por espécies bibliográficas, antigos mapas, espécies naturais, que ainda se conservam na escola, além de uma coleção significativa de arte africana, esta última, em depósito no Museu de Lamego, o projeto expositivo alargou o seu âmbito de ação inicial, Escola-Museu, a outros territórios, por meio da ligação a outros contextos e parcerias, cujo campo de reflexão, questionamento, investigação e ação de mediação se cruzam com a ativação crítica de arquivos da nossa história mais recente, nos dias de hoje.
Partindo de quatro questões-chave: Os arquivos podem mentir? O museu reflete quem somos ou quem não somos? Lembrar o passado: aprender ou desaprender? O racismo vem da História?, Não visitem a sala colonial, a exposição, é o resultado de uma reflexão conjunta, que reúne o contributo de vários artistas, investigadores, escritores, académicos e mediadores culturais – Ana Paula Ferreira, Inês Fialho Brandão, Inês Ponte, Jessemusse Cacinda, Joaquim Melo, José Pedro Monteiro, Manuela Cantinho, Maria Isabel Quaresma, Mário Moura, Marta Machado, Matilde Seabra, Paulo Catrica, entre muitos outros – a fim de promover um debate alargado, por meio de uma prática de memorialização crítica, sobre um dos temas mais fraturantes do nosso passado.
Inserida no programa de comemorações dos 50 Anos do 25 de Abril, e com a curadoria da artista e investigadora Catarina Simão, Não Visitem a sala colonial resulta de uma parceria entre o Museu de Lamego e a Escola Secundária de Latino Coelho, cofinanciada pela DGArtes e o apoio do Município de Lamego, Freguesia de Lamego – Almacave e Sé, Ping! Galeria Municipal do Porto, Museu do Douro, Instituto de História Contemporânea e IN2Past – Laboratório Associado para a Investigação e Inovação em Património, Artes, Sustentabilidade e Território.
Com a inauguração agendada para o dia 14 de dezembro, pelas 15h30, a exposição Não visitem a sala colonial ficará patente no Museu de Lamego, até 27 de abril de 2025.
Sobre a artista Catarina Simão
Catarina Simão (Lisboa, 1972), tem um percurso recente centrado no arquivo de coleções etnográficas em custódia de museus europeus. O seu objetivo é evidenciar uma noção criticamente discutida pelo autor camaronês Achille Mbembe, que relaciona a restituição de obras de arte africanas ao reconhecimento do papel que estas desempenharam na construção da história e da identidade ocidental. Ainda que incipiente no nosso país, o debate sobre reparações históricas oferece um novo espaço de relação com o passado e destaca a importância de confrontar os legados coloniais que herdamos e repensá-los. A Sala Colonial (Lamego, 1938-1980) materializa a desinformação que sustentou o racismo e o nacionalismo em Portugal. Nesse sentido, é relevante aprofundar a compreensão sobre a visão mitificada do mundo colonial e como os pressupostos culturais dessa perspetiva moldam as convenções de senso comum, na linguagem, nas práticas educativas, arquivísticas e museográficas.