Horário: Todos os dias. Das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00. (Aberto, parcialmente, devido às obras de reabilitação do edifício)

Paisagens tecnológicas

Paisagens tecnológicas
de Álvaro Domingues

Local | Casa da Torre

Horário | terça a domingo, 10h00-12h30 e 14h00-18h00

Exposição patente até 21 de outubro de 2024

A exposição

“(…) esta terra é muito montuosa pela maior parte e toda é muito aproveitada, que em ela não há pedaço que não seja aproveitada, principalmente para o Douro. E os homens são tão benfeitores que às fragas altas levam o cesto da terra às costas para plantarem as parreiras e figueiras, pereiras, ameixoeiras, e todo outro arvoredo. E todas as estradas estão cobertas de fruteiras e videiras (…) “

Nos idos de 1531/2, era assim que Rui Fernandes compunha a Descrição do terreno em redor de Lamego duas léguas. Vinha ainda longe o modo romântico de descrever paisagens e o prodígio da fotografia para revelar certos enquadramentos e composições à maneira da tradição pitoresca praticada na pintura oitocentista.

Mais do que impressões visuais sobre terras montuosas e muito aproveitadas, Rui Fernandes assinala modos de transformação, ainda que parcialmente ficcionados, uma vez que os socalcos se construíam mais por escavação e terraçamento de vertentes, do que de enchimento com terra transportada às costas.

Este é um exemplo claro das razões tecnológicas da paisagem. Construir socalcos e caminhos, pontes, fontanários, casas, cardenhos, moinhos, armazéns, adegas…, são trabalhos que mobilizam saberes, técnicas, ferramentas, máquinas e toda a infinidade de coisas de que é feita a tecnologia – desde as técnicas de enxertia, aos sistemas globais de telecomunicações. Essa é matéria de que são feitas as paisagens e indicador seguro do que chega de novo e do que se vai transformando – barragens, albufeiras, auto-estradas, redes elétricas, viadutos. O território é uma construção social, um retalho do mundo que, como escreveu Camões, é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.

O autor

Álvaro Domingues (Melgaço, 1959). Geógrafo, professor na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Da obra publicada destacam-se: Portugal Possível (Museu da Paisagem, Lisboa, 2022 com Duarte Belo); Paisagem Portuguesa, Lisboa, FFMS, 2022, com Duarte Belo); Paisagens Transgénicas, Museu da Paisagem, Lisboa; Volta a Portugal, (ed. Contraponto/Bertrand, Lisboa, 2022); Território Casa Comum (com Nuno Travasso, FAUP, Porto, 2015), A Rua da Estrada (Dafne, Porto, 2010), Vida no Campo (Dafne, Porto, 2012) e Políticas Urbanas I e II (com Nuno Portas e João Cabral, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2003 e 2011), Cidade e Democracia (Argumentum, Lisboa, 2006). Participa regularmente em conferências, atividades pedagógicas, exposições e projetos interdisciplinares. É sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa. Escreve regularmente no jornal Público e na Umbigo Magazine.

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