Paisagem | Território | Trabalho
Residência artística de Alexandre Delmar
Local | Torre de Ucanha
Horário | segunda, terça, quarta, sexta e sábado, 10h00-12h30 e 14h00-18h00
Exposição patente até 21 de outubro de 2024
A exposição
“A Fala das Cabras e dos Pastores” | Lamego e Vale do Varosa
Ao longo do seu percurso artístico, Alexandre Delmar tem vindo a desenvolver um corpo de trabalho que procura investigar diferentes formas de viver e modos de existir ligados às práticas ancestrais, às tradições orais, às culturas resilientes, à ritualidade, à tensão entre lugares e à paisagem rural.
Nesta breve residência artística em Lamego e Vale do Varosa o artista prosseguiu a sua observação e pesquisa em torno das dinâmicas pastoris e das ferramentas e estratégias do primordial que teimam em subsistir à passagem do tempo, nomeadamente através da continuação do projeto “A Fala das Cabras e dos Pastores”.
“A Fala das Cabras e dos Pastores” é uma investigação contínua e itinerante, iniciada em 2015 em Trás-os-Montes, que reflete sobre a tradição milenar de comunicação dos pastores com os seus animais de pastorícia. Em “A Fala das Cabras e dos Pastores”, Delmar tem vindo a construir um arquivo visual e sonoro a partir da linguagem inter-espécies criada pelos pastores para comunicarem com as suas ovelhas e cabras, bem como o seu mapeamento nos vários distritos de Portugal. Aqui, identificam-se e ficcionam-se os trejeitos, os chamamentos, as vocalizações, numa tentativa de entendimento desta fala codificada.
Na vídeo-instalação “A Fala das Cabras e Pastores” de Lamego e Vale do Varosa, que se apresenta agora na Torre de Ucanha, o mecanismo de produzir e interpretar sons é entendido como um léxico comum e o lugar de conexão que aproxima o homem do animal.
A projeção põe ainda em evidência a cultura pastoril desta região e as estratégias de comunicação relacionadas com a orientação do rebanho numa paisagem cada vez mais urbanizada. Durante esta residência artística, Delmar percorreu as freguesias e periferias de Lamego e constatou o diminuto número de pastores, a ausência de grandes rebanhos e a curta distância que os pastores caminham para o pastoreio dos seus animais, utilizando muitas vezes terrenos privados para o efeito. Fatores como o número de animais, a acessibilidade ao local, o relevo e a distância percorrida são, portanto, determinantes na complexidade e variedade do léxico e da linguagem produzida.
À medida que o projeto “A Fala das Cabras e dos Pastores” se desenvolve e expande para outras regiões (atualmente conta com registos de 31 pastores mapeados em 16 localidades diferentes do continente), Delmar vai observando e especulando sobre as diferentes nuances desta aparente proto-linguagem: o som como imposição, o som como incitamento de paragem ou direção, o som como insulto quando o animal não obedece, o som como alerta na presença de perigos ou predadores. No processo, descobre um léxico capaz de comunicar com pássaros.
Em colaboração com os pastores: Arlete Duarte (Várzea da Serra) / Joaquim Capela (Magueija) / Manuel Agostinho (Leomil) / Manuel Carvalho (Várzea da Serra) / Maria Helena Pereira (Alvelos) / Otília Alves (Meijinhos) / Pedro Capela (Magueija)
Agradecimentos: Alexandra Falcão / Amândio da Fonseca / Paula Chaves / Câmara Municipal de Lamego
O autor
Alexandre Delmar (Porto, 1982; vive e trabalha a partir de Esposende) é artista visual e fundador da prática artística e pedagógica A Recoletora. Em 2005 terminou o Bacharelato em Fotografia pela Escola Superior Artística do Porto e em 2007 licenciou-se em Tecnologias da Comunicação Audiovisual pela Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Instituto Politécnico do Porto.
Foi artista em residência dos programas “(Re)Cri’arte” promovido pela C. M. do Fundão (2023); “Vivificar” programado pela CI.CLO Plataforma, em São Mamede de Ribatua (2022), e XVI Encontros da Primavera organizados pela Frauga, em Picote (2021). Foi bolseiro da Porto Design Biennale (2021), do Criatório do Porto (2020) e da Fundação Oriente em Kolkata, Índia (2010).
Foi um dos artistas premiados na XXI Bienal Internacional de Arte de Cerveira com “A Fala das Cabras e dos Pastores” (2020). Em 2021 publica, em coautoria, o livro “Anotações sobre o Abaixo de Cão” pela editora Spector Books, vencedor do prémio de Melhor publicação em sustentabilidade pela Juanzong Archive Awards (2022).
Das exposições recentes em que participou, destaca-se “Corno-traqueia” na galeria A Moagem – Cidade do engenho e das Artes, no Fundão (2023); “Oltre Terra” dos Formafantasma no National Museum, Oslo (2023); “Vivificar” no Surnadal Billag, Noruega (2023); “Pela Terra — Encontro de arte e ecologia”, em Idanha-a-velha; “Bienal de Fotografia do Porto”, no Museu do Porto (2023); “Jardins Efémeros”, Viseu (2022); “Imago Lisboa Photo Festival”, na Galeria da Sociedade de Belas Artes de Lisboa; “Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira” (2021); “Como Construir uma Ilha: Úterus Azorica” no Arquipélago — Centro de Artes Contemporâneas, nos Açores (2019); “Dead Palms”, na Galeria Spazio Milano, Itália (2018).
Do trabalho artístico assinado enquanto A Recoletora, salienta-se a exposição “Enlaçar a boca às coisas” no MIRA FORUM, Porto (2024); o projeto “A emergência da raiz”, que integrou a exposição coletiva “Un rastro de furia e algas” no Salón Artesoado do Colexio de Fonseca, em Santiago de Compostela (2023-24); o vídeo “O lodo ensina a dançar”, a convite do MAM — Mês da Arquitetura da Maia, patente no Fórum da Maia (2023); o projeto “Mesa Comum”, que teve lugar na vila de Fão, em Esposende, e contou com a participação da comunidade de refugiados (2023); o projeto “Meter o chão à boca”, integrado na programação “Pastos e Pastos”, a convite da Galeria Municipal do Porto (2022).