Douro: o Tempo e a Terra
Manuela Matos Monteiro e João Lafuente
Local | Museu de Lamego
Horário | segunda a domingo, 10h00-12h30 e 14h00-18h00
Exposição patente até 29 de dezembro de 2024
A exposição
O tempo e a terra, o tempo e o espaço são as coordenadas que gerem o que ao humano diz respeito. O Douro é definitivamente uma paisagem construída a partir de um lugar feito de escarpas, fragas, encostas íngremes expostas aos ventos, às solheiras, às geadas um lugar desenhado por camadas geológicas que negavam a possibilidade de plantar e colher. Esta fatalidade foi uma provocação e a resposta foi engenhosa a requerer criatividade e trabalho, trabalho duro, intenso, áspero, injusto, mal pago. Hoje, olhamos os extensos anfiteatros e temos dificuldade em ver como era o Douro antes da construção em rede dos socalcos ou geios onde foi possível plantar e ver crescer as cepas. As encostas desenhadas pelas fieiras de vinha e os socalcos, esculpidos nas encostas, são como impressões digitais que marcam a identidade da região.
Neste espaço, nesta terra que é o Douro, há um tempo que escapa ao tempo: o ciclo da vinha inscreve-se no tempo do agros marcado pelos solstícios e pelos equinócios em que há um tempo para escavar e para podar, um tempo para amarrar e para enrolar, o tempo da espampa e da vindima. Este tempo é um tempo distinto do Douro original: o espaço foi transformado e com ele o tempo passou a ser outro marcado pelo ciclo da vinha. E é nesta relação, terra e tempo, que se desenham cenários que ciclicamente mudam: no inverno, despidos de folhedo, os patamares e os xistos dos chãos aparecem; na primavera e em parte do verão, cobrem-se de verde para, no Outono, se transformarem em ocres e amarelos iluminados. E é nesta estação dourada que as uvas adquirem um tom novo numa mistura de cores que convocam ao mesmo tempo o vermelho das cerejas, a magenta das ameixas, o roxo das amoras. Há um tempo que produz estes mistérios.
Esta exposição retoma a exposição oficial da comemoração dos 250 anos da Região Demarcada do Douro inaugurada na Assembleia da República em 2006 juntamente com as obras de Siza Vieira, José Rodrigues e Gracinda Candeias. Viajou para o Parlamento Europeu, itinerou em Paris, Bordéus, Maputo, Beira e percorreu as terras do Douro. As fotografias que agora se convocam trazem a paisagem única do Douro, uma região surpreendente que bem integra o tema da 3ª edição da Bienal de Lamego e Vale do Varosa. Olhando-as de forma distanciada, concluímos que, antes de mais, estas imagens convocam a intemporalidade do Douro.
Manuela Matos Monteiro | João Lafuente
Os autores
As vidas de Manuela Matos Monteiro e João Lafuente estão desde sempre ligadas à fotografia tendo participado em exposições individuais e coletivas e publicado vários trabalhos. Desde 2013, dirigem duas galerias no Porto: MIRA FORUM e Espaço MIRA e a partir de 2017 a galeria MIRA |artes performativas. As três galerias têm intensa atividade no âmbito da fotografia, da arte contemporânea e da performance, sendo muito relevantes os projetos com a comunidade. Para além de fotógrafos são curadores de várias exposições. Comissariaram as três edições da Bienal de Lamego e Vale do Varosa.