Horário: Todos os dias. Das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00. (Aberto, parcialmente, devido às obras de reabilitação do edifício)

a exposição

“Não visitem a sala colonial” é fruto de uma iniciativa pedagógica e artística desenvolvida pelo Museu de Lamego e pela Escola Secundária de Latino Coelho, que teve início em 2021/22 e contou com a colaboração da artista Catarina Simão.

O projeto foi realizado em torno de um arquivo colonial escolar, que reúne um conjunto de itens como um padrão dos descobrimentos, publicações coloniais, artefactos africanos, espécies vegetais, fotografias, peles e crânios de animais. Foi a partir da coleção de objetos africanos, em depósito no museu, que os demais itens foram identificados em diferentes lugares dentro da Escola Secundária de Latino Coelho, também conhecida como “o antigo Liceu”. No seu conjunto estes objetos constituíam a Sala Colonial, um modelo escolar de propaganda dedicado ao “Império Português em África”. Criada durante o Estado Novo (1933-1974) a sala contava uma versão enaltecida e anacrónica da história da expansão portuguesa e das suas “virtudes civilizadoras em África”. A organização e a decoração desta sala transmitiam uma visão universalista através da presença de objetos de arte africana oferecidas por alunos, militares e famílias de Lamego que assim manifestavam um vínculo com os territórios africanos colonizados. A pesquisa culminou na produção de um pequeno filme em colaboração com uma turma do 10º ano da mesma escola, onde foi possível explorar as conotações familiares e problemáticas ligadas à história colonial da região.

Este projeto avançou para a realização de “Não visitem a sala colonial”. Com o título provocatório, esta exposição é uma autorreflexão sobre processos de custódia, inventariação e pluralidade na representação da memória coletiva. Reúne elementos da pesquisa de repertório, recolhas de memórias assim como interpretações em curso por autores convidados e outros artistas.

A exposição é a manifestação dos gestos de delegação e colaboração que envolveram a sua realização. Por um lado, reflete a consolidação de parcerias entre as várias instituições e o acesso aos seus arquivos; por outro, destaca a revisitação da história colonial ligada à região e os seus efeitos contínuos, priorizando mesas redondas, ações educativas e a ativação de redes existentes que incentivem um diálogo informado sobre um passado problemático que afeta várias gerações.

Passados 50 anos desde o 25 de Abril de 1974, muito tem falhado no exercício de reconhecer e exorcizar o nosso legado colonial. É no aspeto probatório do seu arquivo, no confronto com o seu projeto desumanizador, que deverá, por fim, residir a força para colocar a nossa história ao serviço das exigências antirracistas de hoje. Não visitem a sala colonial deseja contribuir para esse esforço, experimentando uma prática de memorialização crítica.

Sobre a artista Catarina Simão:
Catarina Simão (Lisboa, 1972), tem um percurso recente centrado no arquivo de coleções etnográficas em custódia de museus europeus. O seu objetivo é evidenciar uma noção criticamente discutida pelo autor camaronês Achille Mbembe, que relaciona a restituição de obras de arte africanas ao reconhecimento do papel que estas desempenharam na construção da história e da identidade ocidental. Ainda que incipiente no nosso país, o debate sobre reparações históricas oferece um novo espaço de relação com o passado e destaca a importância de confrontar os legados coloniais que herdamos e repensá-los. A Sala Colonial (Lamego, 1938-1980) materializa a desinformação que sustentou o racismo e o nacionalismo em Portugal. Nesse sentido, é relevante aprofundar a compreensão sobre a visão mitificada do mundo colonial e como os pressupostos culturais dessa perspetiva moldam as convenções de senso comum, na linguagem, nas práticas educativas, arquivísticas e museográficas.