Já se encontra online o n.º 5 da revista UM ANO. UM TEMA, dedicado ao tema “A Casa na coleção de pintura contemporânea do Museu de Lamego”.
EDITORIAL
O regresso a casa
Coleção de pintura contemporânea
Após a última edição da revista Um Ano Um Tema ter sido dedicada à Viagem, a pretexto das celebrações dos 500 anos da viagem da circum-navegação iniciada por Fernão Magalhães, mote para grande parte da programação do Museu de Lamego em 2019, percorridas as quatro partes do mundo por meio das coleções, houve lugar, em 2021, a um merecido regresso a casa, que a pandemia viria reforçar.
O regresso ao contexto íntimo da Casa/Museu, que abriu as portas do seu espaço privado, para desvelar algumas das peças que fazem parte da coleção de pintura contemporânea, sem representação no espaço público da exposição permanente. E o regresso também a Casa (às casas) e ao universo privado dos antigos proprietários/doadores do museu – Ana Maria Pereira da Gama, António Metelo Seixas e João de Almeida – que as pinturas convocam, outrora distribuídas pelo espaço doméstico, de quartos, salas, escritórios e corredores, embelezando-os e dando-lhes mais vida e cor.
Que critérios determinam a escolha de uma pintura para as nossas casas? Por certo, o gosto pessoal, que nos leva a optar por temas, estilos, técnicas, paletas…, mas também pelas dimensões, tantas vezes condicionadas pelos espaços disponíveis; a autoria, a que não raramente nos ligam relações familiares ou de amizade; as tendências de momento; ou as referências, memórias e emoções para onde nos pode fazer transportar. Enfim, um sem número de circunstâncias, que nos permitem perscrutar biografias, contextos e vivências particulares, micro-histórias que fazem parte da história do museu.
Partindo de uma seleção de obras representativa da coleção de pintura contemporânea, a revista retoma o conjunto de doze que foram divulgadas nas plataformas digitais do Museu de Lamego, mensalmente, ao longo de 2021. Cronologicamente situadas entre 1884 e 1980, os temas variam entre a paisagem, a arquitetura e a figura humana, alinhadas com figurinos de pendor naturalista, impressionista ou expressionista, denunciando o gosto e sensibilidade dos possidentes em relação às correntes abstracionistas que eclodiram no mesmo período.
Com exceção de uma aguarela de Nicola Bigaglia (1841-1908), um veneziano, com atividade desenvolvida em Portugal, este volume é dedicado à pintura portuguesa, numa oportunidade de atualização de biografias e do corpus artístico de autores como Abel Cardoso (1877-1964), Abel Salazar (1889-1946), Adelino Ângelo (1931-____), Alberto Aires Gouveia (1867-1941), Alberto de Sousa (1880-1961), António Carneiro (1872-1930), Eduardo Rosa Mendes (1906-1983), Joaquim Lopes (1886-1956), João Tavares (1908-1956) e Jorge Maltieira (1908-1994).
A presença feminina é representada por Sophia, uma pintora, por certo, amadora, que assina uma cópia do retrato de Bianca Capello – a nobre veneziana do século XVI, cuja vida trágica inspirou artistas e dramaturgos -, executado pela pintora italiana Juana Romani (1867-1923). Com ligações a Portugal, Juana Romani foi autora do retrato da também artista D. Maria Luísa de Sousa Holstein, terceira duquesa de Palmela.
Num volume que se pretende venha a proporcionar agradáveis momentos de leitura e fruição, cabe um agradecimento aos autores: Georgina Pessoa – historiadora de arte, técnica superior do Museu de Lamego, atualmente a desempenhar funções no Museu do Abade de Baçal (Bragança), pela dedicação, empenho e olhar sensível no estudo das pinturas – e Gabriele Romani, especialista na obra de Juana Romani, a quem ligam laços de parentesco, e que nesta edição assina um artigo sobre o retrato de Bianca Capello. E um agradecimento também a todos os que direta ou indiretamente contribuíram para a concretização deste número de Um Ano. Um Tema.
Alexandra Braga Falcão | janeiro 2023
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