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O Douro na porcelana chinesa do século XIX

O Douro na porcelana chinesa do século XIX

Uma travessa decorada com cercadura de parras e cachos de uvas é a peça que escolhemos este mês, por forma a dar continuidade ao périplo pelo tema «A paisagem nas coleções do museu». Oferecida pelo comandante Humberto dos Santos Leitão, reflete uma permanência de gosto pelas louças orientais e o lugar central que ocuparam no seio das coleções privadas formadas nas primeiras décadas do século XX.

Humberto Leitão nasceu em Lamego em 1885, mas uma fulgurante carreira na Marinha conduziu a que a maior parte da sua vida fosse passada no Oriente, onde por duas vezes, em 1921 e 1923/1924, ocupou o cargo de encarregado de governo em Timor. Homem culto e de gosto refinado, autor de diversos estudos sobre Timor e sobre a Expansão Ultramarina, deixar-se-ia maravilhar pela beleza, exotismo e sofisticação dos produtos do Oriente, onde iniciou uma interessante coleção, que viria a complementar, no regresso a Portugal, com peças adquiridas em leilões.

Mais tarde doada ao museu, a coleção integra várias dezenas de objetos – marfins, bronzes, caquemonos, sedas, peças de mobiliário, pratas e porcelanas – com origem na China, Índia, Indonésia e Japão, e datados, sobretudo, do século XIX e inícios do seguinte. Se grande parte das peças terá sido adquirida em Cantão, que era, na sua passagem pelo Oriente, o mais importante interposto comercial com a Europa, é provável que a travessa, como parte de um serviço de mesa, tenha sido adquirida, isoladamente, já em Portugal.

São conhecidas encomendas de louças na China, com destino a Portugal, durante a dinastia Qing, reinados de Qianlong (1736-1795) e Jiaqing (1796-1820), que apresentam a mesma decoração de parras e cachos de uva, no preenchimento da cercadura, com uma ligação direta ao Douro. Assim sucede no prato com as armas de José Pinto Soares, comendador da Ordem de Cristo e diretor da Companhia dos Vinhos do Alto Douro (c. 1820) ou num outro exemplar encomendado por João Pinheiro de Aragão Salzedo, coronel de milícias da Comarca de Lamego e senhor da Casa do Campo de Lamego (c. 1815).

Também a coleção Palmela possuía, em 1860, um serviço de jantar com mais de 400 peças, um dos serviços de porcelana da China de maior envergadura à época, com uma decoração muito próxima da travessa em destaque.

Mais tarde, o motivo das parras e cachos de uvas foi retomado pela Fábrica da Vista Alegre, entre 1947-1968, num serviço de mesa designado justamente “Douro”.

Travessa

China

Dinastia Qing, período de Jiaqing, c.1800-1820

Porcelana branca decorada com esmalte azul e ouro

Doação comandante Humberto Leitão

Inv. ML 1711

Retrato do comandante Humberto dos Santos Leitão

@ Cortesia de Custódio Leitão.

BIBLIOGRAFIA

CASTRO, Nuno (1987) – A Porcelana Chinesa e os Brasões do Império, Porto, Civilização, p. 206, 215.

MATOS, Maria Antónia (2000) – “Terrina e Prato Coberto” In Uma Família de Coleccionadores. Poder e Cultura (catálogo de exposição), Lisboa, IPM, 2000, p 230.