Concha de peregrino
Terra Santa, séc. XVII
Madrepérola com desenho inciso preenchido a negro
Proveniente do antigo paço episcopal de Lamego
Inv. ML 757
Evocando as águas do mar pelo próprio material empregue, as conchas de peregrino provinham, habitualmente, da Terra Santa, onde eram vendidos aos peregrinos como recordações pias, sendo Jerusalém um dos maiores centros de produção de escultura em madrepérola. Segredada por molúsculos bivalves e colocado em camadas à volta do interior da concha, pode ser facilmente cortada, gravada e esculpida (SOUSA, 1998: 120).
As conchas de peregrino são habitualmente decoradas, por norma, no seu interior e em raros casos na face externa, com desenhos incisos ou relevados, preenchidos a negro ou policromados, com representação de vários temas religiosos: vias sacras, iconografia mariana ou representações de santos.
Proveniente do antigo paço episcopal de Lamego, a concha em destaque possui uma perfuração junto à charneira para se poder suspender. Na face interna sobre o nacar, possui desenho inciso realçado a negro, figurando São João Batista e a legenda: «S. IOANNIS». De realçar a presença da concha, que o santo segura com a mão direita, com a qual parece receber a água que jorra de um rochedo, certamente aludindo ao curso do rio Jordão. A cruz, junto ao leito do rio, poderá corresponder ao memorial que se ergueu junto ao Jordão para assinalar aos peregrinos onde teve lugar o batismo de Cristo. A decoração é rematada por um friso de folhagem e motivos ziguezagueantes a preencher a orla.
Bibliografia
SOUSA, Maria Conceição Borges de (1998) – «Madrepérola». Fons Vitae. Pavilhão da Santa Sé na Expo ’98 (catálogo). Lisboa.