Virgem do Ó
Mestre Pero
Coimbra, 1330-1340
Calcário
Igreja do Mosteiro de São João de Tarouca; antigo paço episcopal de Lamego
Inv. ML 129
Fotografia | José Pessoa
As imagens da Virgem do Ó, também conhecidas como Nossas Senhoras da Expectação, da Esperança ou Pejadas, são um bom exemplo da humanização da maneira de representar e de pensar a figura divina, que marcou a arte gótica. A atitude amaneirada, movimentada em ritmo de contracurva, as vestes pregueadas e dinamizadas pela atitude do corpo e pelo ventre rotundo, sobre a qual a Virgem pousa a mão direita, conferem a esta imagem uma expressiva plasticidade e um elevado sentido de humanidade.
O tema da Virgem grávida de Jesus após a Anunciação gozou de grande devoção em Portugal e em Espanha, sobretudo em tempos do gótico, ainda que o culto se tenha iniciado muito antes, no século VII, durante o X Concílio de Toledo, quando foi decretada a celebração da expectação da Virgem, a decorrer nos oito dias que precediam o nascimento do Menino. Durante as festividades eram entoadas antífonas em louvor da Virgem, que começavam com o exclamativo «Ó», nome pelo qual passaram a designar-se as celebrações e, por extensão, as imagens evocadas durante as mesmas.
Datada entre 1330 e 1340, está atribuída a Mestre Pero, escultor da Corte, de provável origem catalã, autor do túmulo do bispo bracarense D. Gonçalo Pereira (1334), do túmulo da princesa bizantina residente em Portugal, D. Vataça de Lascaris de Ventimiglia (1337) e, possivelmente, também o da rainha santa Isabel de Aragão, depositada em Santa Clara-a-Velha, Coimbra.
A escultura deu entrada no antigo paço episcopal, oriunda da igreja do Mosteiro de São João de Tarouca, devendo associar-se ao anjo da Anunciação, atribuído ao mesmo escultor, que ainda hoje aí se encontra. Criado o museu, em 1917, a Virgem do Ó foi integrada na sua coleção e privada da convivência entre os livros da biblioteca, a desaparecida livraria do paço, onde se encontrava.