PROGRAMAÇÃO COMPLEMENTAR
A organização do II Ciclo de Fotografia de Lamego e Vale do Varosa, este ano dedicado ao tema CASA, promove um conjunto de Conversas online – ZOOM e LIVE do Facebook do MIRA FORUM, Museu de Lamego e Vale do Varosa – sobre o conjunto os projetos fotográficos que constituem as exposições em exibição este ano no Museu de Lamego e nos Monumentos do Vale do Varosa – Torre de Ucanha e Mosteiro de Santa Maria de Salzedas.
Conversas Sobre Fotografia | Online
01 setembro | 21h30 | online
Conversa sobre um projeto fotográfico
“Casa Forte” de Sérgio Rolando
Ao longo do Vale do Varosa, os diversos tipos de habitação refletem uma implantação secular e sedimentação social. A transformação do território é lenta, marcada quer por uma cristalização da arquitetura vernacular, quer pela alteração gerada pela vida contemporânea, resultando numa grande diversidade de edifícios, tradições e métodos construtivos.
Estas características contribuem para que o conjunto de fotografias remetam para um encontro entre o espaço público e o privado, onde a paisagem e a topografia sublinham um sentimento identitário enraizado e característico da região.
São fotografias de paisagem, que resultam de uma relação individual com o assunto, combinando objetividade com visão pessoal – documento e discurso. Real, imaginária, simbólica, experiencial e mnemónica, sugerem uma realidade sobre a qual se construiu uma representação. Pretende-se que interroguem e comuniquem acerca do meio ambiente, convidando os espectadores a considerar, reafirmar ou questionar, o sentido e a natureza do lugar.
Geográfica, autobiográfica, metafórica ou sociológica, em conjunto ou isolada, a paisagem refere-se a uma prática quotidiana. Ao invocar memórias, as fotografias atuam como substitutos da experiência, contribuindo para a formação de um sentimento de identidade individual e coletiva. (Sérgio Rolando).
Este projeto concretiza-se numa exposição que integra o Ciclo de Fotografia de Lamego e Vale do Varosa com a curadoria de Manuela Matos Monteiro e João Lafuente.
A exposição pode ser visitada até 31 de outubro na Torre da Ucanha.
Nota biográfica
Sérgio Rolando (1978). Vive no Porto, onde trabalha como fotógrafo e como docente no ensino superior. Estudou fotografia no IPF, licenciou-se em Tecnologia de Comunicação Audiovisual e é Mestre em Fotografia e Cinema Documental pela ESMAE.
No seu trabalho procura uma representação, interpretação e construção visual sobre os assuntos da Paisagem, Arquitetura e Território. Foi Bolseiro de Pépinières Européennes pour jeunes artists (2003), ESMAE (2011) e Instituto Camões (2015/2016).
Expõe regularmente em Portugal e no estrangeiro, possuindo diverso trabalho publicado.
Sérgio Rolando esteve em residência artística em junho 2021 no Solar da Porta dos Figos/Castelo de Lamego, com o apoio da Câmara Municipal de Lamego.
8 de setembro | 21h30 | online
“Casas de Brasileiro: um registo de afetos”
de Júlio Matos
O meu primeiro contacto com Casas de Brasileiro, e a primeira casa que fotografei neste projeto foi O Palacete da D. Chica, fica perto da minha terra natal, Braga. Era opinião na época de ser de um gosto duvidoso novo-rico. Eu povoava-o com cavaleiros e personagens míticas.
Este projeto fotográfico levantou-me alguns problemas conceptuais. Será a Arquitetura fotografável? Ou apenas documentável, ou apropriável pela fotografia? A fotografia de arquitetura, subordina o objeto arquitetónico a uma imagem. Quando um fotógrafo impõe a sua visão/compreensão a um objeto arquitetónico, apropria-se dele.
A Arquitetura não é fotografável! A emoção do espaço provocada pela relação espaço-tempo materializada em múltiplos, infinitos percursos, não existe fora desse espaço. O percurso arquitetónico é a forma de compreender a Arquitetura. A visualização da ausência é uma forma de sobrevivência: imaginamos o que a fotografia não consegue mostrar. A Fotografia e a Arquitetura partilham diversas intenções, plano, volumes, distâncias, e antes de tudo a Luz. A Luz é a matéria em movimento, é o tempo. Fotografar é segmentar o tempo na superfície do registo. Nessa impossibilidade de registar a essência, resta-nos um retrato que alia a forma á expressividade. O conhecimento e os sentires: a fotografia é antes de tudo um olhar.
A cor neste corpo de imagens, intui uma evocação, em tons de um pretérito. País imaginário e ficcional, evocando os trópicos. A erosão ou a boa conservação das casas reforça essa impressão. A ficção é apenas a síntese e o sentido que agora lhe damos. A Casa de Brasileiro é antes de tudo uma lição de afetos. (Júlio de Matos)
Exposição patente no Museu de Lamego, integrada da segunda edição do Ciclo de Fotografia de Lamego e Vale do Varosa 2021.
Nota biográfica
Desde que me lembro, a fotografia construiu-me, e tornou-se a minha janela privilegiada para “Ver” o Mundo…
Participei no Industrial Design Workshop 74 com Gerald Gulotta do Pratt Institute de Brooklyn, NY, USA. Em 1976 licenciei-me em Arquitectura pela ESBAP/UP. Fui bolseiro Fulbright pelo ITT International Fellowship Scholarship Program, para estudos de pós-graduação MFA in Photography as a Fine Art, RIT – Rochester Institute of Technology, USA, 1979/81. 1980/81 Graduate Assistant em History of Aestetics of Photography. Fundei o Curso Superior de Fotografia na Cooperativa de Ensino Superior Artístico Árvore, Porto, 1982. Membro de diversos júris de fotografia. Comissariei exposições e instalações. Expus na Europa, Ásia, América do Norte e Sul. Presente em Colecções Nacionais e Internacionais. Diversas Publicações e Livros. Projectos recentes: Ta Prahom, A Memória do Mundo; Porta do Paraíso – Manikarnika Ghat; Fading Hutongs; Casas de Brasileiro; Flat Water; Y Deolinda Correa se murrio de sede; Journey to Santa Fe, Crónicas de Ronci”. E em 2018 “Caminho que Somos”.
Nestes tempos que hão de perdurar na História, a Fotografia vive…
www.juliodematos.com
15 de setembro | 21h30 | online
“Casas sem gente”
de Inês d’Orey
“Casas sem gente” reúne um conjunto de imagens de espaços vazios que Inês d’Orey registou ao longo de mais de uma década. A ideia de uma narrativa incerta, de uma dicotomia entre a sugestão e a ficção, de uma realidade encenada, são alguns dos aspectos continuamente presentes no trabalho fotográfico de Inês d’Orey e que aqui podemos descobrir.
Exposição vídeo patente no Museu de Lamego, integrada na segunda edição do Ciclo de Fotografia de Lamego e Vale do Varosa 2021.
Nota biográfica
Inês d’Orey nasceu em 1977, Porto. Estudou fotografia na London College of Printing, 2002. A arquitectura, a polis, a fronteira ente espaço público e privado, a investigação sobre os lugares e seus contextos são alguns dos elementos que constituem o seu corpo de trabalho, cujo principal meio é a fotografia, ainda que com fusões com a instalação e o vídeo. Expõe, publica e faz residências artísticas com regularidade. Está presente em diversas colecções privadas e públicas, onde se destaca a Fundação EDP, a Oliva Arauna Coleción (ES) ou a Galleri Image (DK). Tem sido premiada pelo seu trabalho, nomeadamente com o prémio Novo Talento Fotografia FNAC 2007. Na publicação de livros destacam-se, “Mecanismo da troca”, 2010, e “porto interior”, 2011. É representada pela Galeria Presença (Porto) e pela Galeria das Salgadeiras (Lisboa).
22 de setembro | 21h30 | online
“A Casa sou eu”
de Lucília Monteiro
Logo na manhã da vida, dos primeiros riscos de uma mão hesitante, nasce uma casa. A identificação com a casa há-de acompanhar cada passo dado na longa estrada da existência.
A casa é o ninho aconchegante, o refúgio que transmite segurança, o lugar onde a família ganha novos elementos e onde os amigos são bem-vindos.
Mesmo que haja mudanças de sítio, ou que a casa se renove com obras, poeiras, cheiros de tintas novas, a ideia da casa mantém-se estável.
Afinal, cada tijolo, trave-mestra, esquina, degrau ou objeto guardado, são apenas elementos físicos. Porque a minha casa sou eu com as muitas vivências, que aguardam um lugar onde ganhar raízes como a erva que brota daquele rasgo na parede.
– Ivo Caldeira
Exposição vídeo patente no Museu de Lamego, integrada na segunda edição do Ciclo de Fotografia de Lamego e Vale do Varosa 2021.
Nota biográfica
Lucília Monteiro nasceu em 1966, na Madeira. Em 1988 ingressou no Curso Superior de Fotografia na ESAP iniciado em simultâneo a carreira de fotojornalista (1989). Em 2014 concluiu o mestrado em fotografia e cinema documental.
Ao longo da carreira fez reportagens em conceituados jornais e revistas portugueses (Expresso e Visão), em que se destacam as minorias étnicas na China (1998), guerra civil em Angola (2001), conflito político na Venezuela (2002) e reportagens na Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde, Brasil.
O fotojornalismo foi uma oportunidade para conhecer o mundo, aprender e ver realidades diferentes, para se documentar. A sua preferência vai para uma fotografia que suscite uma narrativa mais subjetiva, que leve à interrogação, que seja um conjunto de palavra-fotografia, relacionando o social, política, fé e culturas diferentes.
A partir de 2014 começou a trabalhar noutros projetos que sempre lhe interessaram, tendo levado a cabo iniciativas pessoais no âmbito da fotografia documental, arte e instalação, com fotografias e vídeo. Investigou sobre os ex-votos em Portugal trabalhando o ex-voto como representação do corpo em cera e o ex-voto fotográfico. Atualmente trabalha o tema “Mulheres da Guerra” vítimas da Guerra Colonial. Cria narrativas a partir do seu arquivo fotográfico de 35 anos, e relaciona com o presente. Os temas centrais das suas investigações são: corpo e lugar e seus mitos.
29 de setembro | 21h30 | online
“Gente sem casa”
de Paulo Pimenta
Quando falamos de casa, não falamos só de teto, paredes, abrigo. Aos sem-abrigo falta muito mais porque a casa é muito mais: é aconchego, amparo, colo, intimidade, família…
Paulo Pimenta conhece bem a realidade dos sem casa que pernoitam em portais de prédios e lojas, em vãos de escadas, por baixo de pontes e viadutos, em casas em ruínas, nos bancos de jardins, nos passeios das ruas. O negro duro, denso e sombrio das suas fotografias, retrata mais do que os ambientes físicos dos sem abrigo: conta vidas duras, densas, sombrias, desesperançadas de futuro. Estas imagens trazem-nos o frio, a humidade, o desamparo de corpos sob cobertores. Marginalizados, menorizados, excluídos, muitos destes cidadãos invisíveis vivem a impossibilidade de se reinventarem, de restaurar a sua própria humanidade.
Fotografias sem luz testemunham vidas sós na cidade onde já nem há pirilampos para enfeitar a noite. E nem a lua chega para dar uma réstia de luz a estas vidas sem vida.
– Manuela Matos Monteiro
Exposição vídeo patente no Museu de Lamego, integrada na segunda edição do Ciclo de Fotografia de Lamego e Vale do Varosa 2021.
Nota biográfica
Paulo Pimenta é fotojornalista do jornal Público. Recebeu o 1.º Prémio de Fotojornalismo Estação Imagem em 2012 e tem recebido vários prémios de Fotojornalismo, tanto da Estação Imagem até 2017, e recentemente o Prémio Internacional de Fotografia Peironcely, em Madrid. É autor do livro “São pessoas” em co-autoria com o fotojornalista Adriano Miranda. O seu trabalho tem figurado em diversas publicações institucionais. Tem um vasto trabalho de colaboração com companhias de dança e teatro, destacando-se a companhia de Pina Baush, e Companhia Olga Roriz, Teatro Crinabel em registo fotográfico, obra publicada e cenografia. Para Fez apresentações públicas do seu trabalho, no TedX Matosinhos, sendo também docente convidado pela FBAUP/FLUP. Integra inúmeros projectos multidisciplinares de vertente social, de luta contra a pobreza, integração, comunidade.
6 de outubro | 21h30 | online
“A Casa na obra de Alfredo Cunha”
Alfredo Cunha
Desafiámos o Alfredo Cunha para propor um trabalho sobre a casa para integrar o Ciclo de Fotografia de Lamego e Vale do Varosa 2021. A resposta imediata foi “Não tenho! Fotografo pessoas, fotografo a vida vivida, fotografo gente.” Recordamos-lhe que as pessoas acontecem nas casas plantadas em lugares onde predomina a natureza e também em lugares urbanos onde domina o construído. Ele entusiasmou-se com o desafio e enviou-nos centenas de fotografias com gente nas ruas com casas, em frente a casas, dentro de casas, em escombros de casas destruídas pela guerra ou por catástrofes naturais.
Foi a partir das suas imagens com origem em várias latitudes que discorremos sobre o que significa a casa para os seres humanos que habitam o planeta: casa-cubata, casa-barco, casa-térrea, casa-barraca, casa-grande-pequena, casa-pobre, casa-rica, casa-tenda para quem não tem casa e perdeu o país … Percebemos que a casa é antes de mais um abrigo, um resguardo que assume formas tão diversas porque se contam em tempos diferentes, respondem a necessidades diferentes, refletem estatutos sociais distintos e são manifestos de formas diferentes de viver a vida. E a morte, na última morada, na última casa.
O trabalho de Alfredo Cunha constitui assim uma prova de humanidade das casas.
Curadoria: Manuela Matos Monteiro | João Lafuente
Exposição e vídeo patente no Museu de Lamego, integrada na segunda edição do Ciclo de Fotografia de Lamego e Vale do Varosa 2021. Até 31 de outubro.