Virgem do Ó
A policromia é uma constante nas imagens da oficina de Mestre Pero (circa 1300-1350), ainda que existam obras do mesmo escultor que possam nunca ter sido policromadas. Neste caso, mantendo-se a imagem colorida e, assim, mais naturalista, também é verdade que, devido aos repintes, estas camadas de preparo e de pigmentos dificultam a leitura mais apurada dos elementos escultóricos, como acontece em tantas imagens deste escultor e da sua oficina. Realizados em data incerta, os repintes devem ter ocorrido em finais do século XVIII ou inícios do seguinte, pelas características da pintura de uma laçada, junto ao pescoço, que evoca a joalharia do reinado de D. Maria I.
De acordo com as características que definem a produção de Mestre Pero, o presente exemplar apresenta uma disposição do corpo levemente sinuosa, com o joelho direito ligeiramente avançado e fletido, deixando a perna esquerda em tensão, e um dos lados da anca mais elevado. O rosto é oval e tem um ligeiro duplo queixo, o nariz fino e narinas salientes, os olhos amendoados e a boca com os lábios levemente unidos, num figurino que em tudo se relaciona com os modelos da imaginária feminina francesa do século XIII e inícios do XIV. O rosto é emoldurado por cabelos que definem madeixas onduladas, com caracóis pronunciados junto às orelhas e perfurados pelo uso do trépano. As mãos apresentam os dedos cilíndricos e alongados, e a parte superior algo aplanada. A Virgem usa véu curto e uma túnica com pregas requebradas, cingida por um cinto ornamentado. Sobre a túnica, um manto preso no peito com um alfinete quadrilobado.
Provavelmente realizada para a Catedral de Lamego, transitou, em data incerta, para o Hospital da Santa Casa da Misericórdia, onde se encontrava na capela e, posteriormente, num altar, na sala das parturientes.
Mestre Pero
Coimbra
1340-1350
Escultura de vulto com as costas escavadas, em calcário policromado
Catedral de Lamego (?); antigo Hospital da Misericórdia de Lamego
Inv. ML 130