Flagelação de Cristo
Ligada ao ciclo da Paixão, a pintura Flagelação de Cristo deve ter pertencido a uma estrutura desmantelada que decorava a capela-mor da primitiva igreja da Misericórdia, onde se sabe ter existido um retábulo apainelado com cenas da Paixão (ver Cristo atado à coluna, inv. 77), a bordejar um painel, de maiores dimensões, da Visitação da Virgem a sua prima Santa Isabel (actualmente na capela de Sant’Ana, Cepões, Lamego) e, sobre este, um painel alusivo à Virgem da Misericórdia (desaparecido). Para a elaboração do políptico foi contratualizado o pintor António Leitão, que em 1565 se encontrava a terminar os trabalhos. Proveniente de uma família aristocrata de Castelo Bom (Almeida) e com formação em Roma e na Flandres, a sua vinda para Lamego, onde se fixa com mulher e filhos, deve estar relacionada com o bispo D. Manuel de Noronha (1551-1569), porquanto ambos frequentavam os círculos intelectuais e artísticos ligados à corte e cúria romana.
Numa composição de gosto clássico, sobre um fundo sombrio, destaca-se a figura de Cristo de mãos atadas e a coroa de espinhos, no momento em que um soldado romano lhe entrega a cana verde, em sinal de escárnio. À direita, rasga-se um fundo de arquiteturas e paisagem, onde se desenrola o episódio secundário da apresentação de Barrabás à multidão, por Pôncio Pilatos.
Nesta como na outra pintura do mesmo autor e com a mesma origem (ver. Cristo atado à coluna, inv. 77) é de assinalar a qualidade do desenho das anatomias e pormenores minuciosos, o cuidado do tratamento lumínico, com contrastes entre zonas fortemente iluminadas e outras que permanecem na penumbra e a expressividade dramática das personagens.
Atrib. a António Leitão, c.1565
Óleo sobre madeira de castanho
Proveniente do altar-mor da primitiva igreja da Misericórdia de Lamego
Inv. ML 78